terça-feira, 20 de julho de 2010

Desfragmentação

Nesta escuridão lânguida trespassada por uma luz branca minúscula vinda de longe de muito longe da qual não me consigo desprender, vejo o coelho verde psicadélico, os objectos voadores, os raios iluminados, vejo o sofá onde durmo. uma voz chama-me demasiado doce, demasiado feminina, demasiado atraente "Vem!", é tão suave, tão etérea "Vem!","Vem!", repete no mesmo tom de voz! enquanto que eu fico já comovido, excitado, louco por não conseguir sair da luz branca que me fascina "Vem!","Vem!","Vem!", (mudou o tom de voz, apesar de irresistivelmente doce, um pouco com mais amplitude) "Vem!","Vem!","Vem!","Vem!", (quase desesperada) "Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!",AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHh! "Vem!","Vem"Vem!","Vem!",AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! "Vem!","Vem!","Vem!", AHHHHHHHh! Eu grito, grito no meio da loucura com a voz "Vem!","Vem!","Vem!" grito "Vem! grito, grito, estou amarrado, estou completamente amarrado AHHHHHHHHHHHHHHHHHh! quero-me soltar voar, beijar, e a voz a chamar-me tão louca como eu "Vem!","Vem!","Vem!","Vem!" Oh voz etérea, voz etérea toma-me toma-me AHHHHHHHHH! Cervejas regurgitadas com bocados de vinho mal disseminado e whisky bom, muito bom AHHHHHHHHHHHh! "Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!","Vem!",
"Vem!",
"Vem!"...
Nesta escuridão lânguida trespassada por uma luz branca minúscula vinda de longe de muito longe da qual não me consigo desprender, vejo o coelho verde psicadélico, os objectos voadores, os raios

Chove agora lá fora assaz, e eu tomo banho nu, para que a água escorra o sangue e traga éter para me poder espargir e fi
nalmente ir ter contigo, voz doce, feminina, atraente.

Benjy Compson

A partir de Pierrot Lunaire, Op.21 - 8. Nacht de Arnold Schoenberg


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